Veronice. Sua raiva
lhe corrói toda. Pele esponjosa, boca grandes lábios. Feição de quem sente um fedor permanente. Não vou falar da cor da pele, pois há tabus servindo para mascarar preconceito em nome da retidão política.
Mas o cabelo, posso dizer?: escova progressiva. Faz um jeito Emília em segurar os livros acochados aos peitos fartos. Fala docinho
brigadeiro, biquinho feito criança. Infantiliza-se por método. Durante o semestre saúda
os coleguinhas e o professor com gracejos e mumunhas que os envergonham, por ela. Chega às aulas sempre de farda,
branco e azul. Blusa de lycra colada. Calça de tecido sintético
brilhoso, também colada. Nunca observei o calçado.
Veronice quer
vencer. Vai vencer! Sua metralhadora beijinho no ombro está apontada para defender seus direitos. Acha-se inatingível à saia justa. Sua objetividade
lhe confere o álibi da certeza definitiva. Sempre ao seu favor, apesar.
Orgulha-se da verdade de almanaque que empunha. Daí a violência em que se a
transforma caso alguma crítica lhe seja desferida. A deselegância que lhe assola os ânimos ela sabe seu ponto fraco. Do veneno,
falta-lhe a realeza malemolente e a indiferença sublimes da cobra-coral.
Veronice quer
vencer. Vai, Verenice, vai se.