terça-feira

o avô

Meu bebê, que eu amo, dita a esposa sexagenáriaTanto feito, agora idoso, transformado no desfeito, desfecho da tutela. Tanto fez. Cãs não valem vintém. Salvo o benefício. Cartão de aposentado na mão de parente é respeito comprado. 

Cabra grosso a vida toda, foi livre. Não limpa mais a bunda. É meu bebê, que eu amo tanto, rediz a esposa sexagenária torcendo-lhe a cabeça, espremendo-lhe a bochecha. Álbum ambulante de família, o patriarca bêbado. Figurinha repetida. Não cola lembrança, o demente. Não empunha a vontade, nem voz. Melhor pra covardia dos filhos. 

Vão se despedindo, passando a mão pela cabeça. Posando de corajosos, íntimos. Nunca me conheceram, dizia. Nem perdoaram. Pularam o desfecho. Estão no lucro. Subirão os créditos. Revisitam o medo. Do avô pai que virou filho, neto, bebê. Meu bebê que eu amo tanto