Peitos feitos câmara
de ar, gelados, pulando esmagados do vestido. Audísio, agarrando com
a mão trocada, balança-os tremelicando. Não encontra os bicos nos
pacotes de silicone. O dorso quente. Sente os grãos de suor: orvalho
ou mercúrio? Sou
toda grande,
diz.
Quanto mais atiça, elaele repele. A repulsa agrada, fortalece o cru
da hora. As pernas de atleta, robustas, roliças, não têm boleios
nem pêlos. Um olor forte doce-azedo no ar. Quanto mais tenso mais
aumenta o passa-passa, ferozes sobre o freio de mão. A luz do poste
recaindo sobre o painel do carro, desfeita em meia, feito abajur,
entre as folhas da amendoeira. Elaele economiza gesto, resiste a
floreios.
Era pressa, era
negócio. Não havia palavra-a-palavra, nem pensamento a delinear os
rostos. Feito Cristo, arrastando destino, vontade em cruz, Audísio
batendo punheta implorando um gemidinho. Vambora,
meu filho, goza. Aqui toda hora tem polícia.
Ele nada. Álcool e outras drogas desorientam a lascívia na base em
que acendem a luxúria. Viagra. Quanto mais elaele instigava, menos a
rigidez mantinha.
Vem, pega no meu
cu!
Não sai sem gozo. Aliás, por isso ali, sem escolha, pagando pra ter
certeza. Elaele meteu, pressentindo na língua o gosto de chouriço.
Devaneia. (Cheiro
antigo esse, de sangue talhado e merda na cabeça do dedo. Vem do
quintal da infância, quando em cima do flandre, entupida de carvão,
a panela de pressão piava na lata. Os fatos ferventando horas desde,
a manhã evolando o podre em decomposição. As tripas a mãe lavava
no tanque. Calorão, suor e fedor, tudo outra vez. Cheirinho antigo
esse: sangue talhado e merda, dia de sarrabulho. Dia de gozo
vagabundo).
Ai, hun; vem,
gostoso, goza gostoso.
Na fervura dos gomos o membro de Audísio entesou finalmente. A mão
áspera feito bucha arreganhou o cavernoso. Meteu na víscera que
rejunta o bofe. Aaai!
Fudeu!
Encravada nos testículos, a lâmina não considerou. Fofo o
esguicho, não foi gozo. Foi embucho. A tromba imberbe de Audísio
gotejando, dependurada no banco bege do Corcel. O traveco almiscarado
não quis saber história. Arremessou a bolsa pela janela e saltou a
porta, cavalgando corpulenta no asfalto rubro negro, feito búfala.