Desço do carro,
travo porta, engancho o pinguelo do chaveiro na boca do bolso,
mergulho na praça. Me apoio com o polegar na borda e entro, sem
senha. Não preciso direção, não escolho lados. Cambaleio para o
meio, tateio com a planta dos pés a parte sem grama e sem cimento.
Acendo cigarro, a cidade fade-out.
Ovais, as pessoas
vão e voltam. É diária essa meditação peripatética na cidade.
Eu plantado no parquinho feito rosa de celofane no canteiro -
decorando o coração a seixos.
As árvores ameias rebatem a luz. A iluminação de costas. O
sombreamento me acolhe, deixa o coração mais tom. Um fusco de não
ver e ver, em tons de verde. As pessoas resvalam na borda da praça,
vejo-as retorcidas feito roupas na centrífuga. O vento não pousa
entre os bancos, repousa nas copas que remexem feito girafas. A praça
é uma mitocôndria radiante, um torvelinho no estômago, ilhota de
liberdade. A cidade faz cócegas em meu bigode.