sábado

A praça


Desço do carro, travo porta, engancho o pinguelo do chaveiro na boca do bolso, mergulho na praça. Me apoio com o polegar na borda e entro, sem senha. Não preciso direção, não escolho lados. Cambaleio para o meio, tateio com a planta dos pés a parte sem grama e sem cimento. Acendo cigarro, a cidade fade-out.

Ovais, as pessoas vão e voltam. É diária essa meditação peripatética na cidade. Eu plantado no parquinho feito rosa de celofane no canteiro - decorando o coração a seixos. As árvores ameias rebatem a luz. A iluminação de costas. O sombreamento me acolhe, deixa o coração mais tom. Um fusco de não ver e ver, em tons de verde. As pessoas resvalam na borda da praça, vejo-as retorcidas feito roupas na centrífuga. O vento não pousa entre os bancos, repousa nas copas que remexem feito girafas. A praça é uma mitocôndria radiante, um torvelinho no estômago, ilhota de liberdade. A cidade faz cócegas em meu bigode.